Tatuagem: o que é que o cinema pernambucano tem?

Falemos sobre o cinema nacional. Nesta quarta-feira (13), Tatuagem (Tatuagem, 2012, Brasil) recebeu o prêmio Coelho de Prata na categoria longa-metragem, concedido aos filmes mais bem avaliados na opinião do público e do júri do Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade. O evento está em sua 21ª edição e vai até o dia 17 em São Paulo. No Rio de Janeiro, começa hoje e segue até o dia 21 deste mês. Não é a primeira honraria que Tatuagem recebe. Em agosto deste ano, no Festival de Gramado, o Oscar brasileiro, o longa dirigido por Hilton Lacerda já havia abocanhado três Kikitos – Melhor Filme, Melhor Ator (Irandhir Santos) e Melhor Trilha Sonora (DJ Dolores) – e o Troféu Cidade de Gramado. Mas é possível ver o filme fora de festivais, o mesmo estreia amanhã (15) em circuito comercial no Brasil todo.

Cor local: A trupe do Chão de Estrelas pelas ruas do Recife.

De fato, os méritos do filme são muitos. A começar pela ousadia da temática e construção narrativa. As história da trupe de atores do teatro pernambucano Chão de Estrelas é apresentada paralelamente à de um jovem soldado que sofre bullying por suspeitas de homossexualidade no quartel. Os dois eixos se desenrolam independentemente até que, em certo ponto, se misturam e não se separam mais. O pano de fundo é a ditadura dos anos 1970. Outro destaque vai para a apropriada trilha sonora que confere riqueza adicional às cenas e deixa bem marcada a cor local do filme. Por fim, cabe ressaltar ainda algumas atuações memoráveis. Irandhir Santos, no papel do protagonista Clécio, diretor de teatro, convence nos momentos irreverentes e também nos dramáticos. Também merece menção o belo trabalho de interpretação de Rodrigo Garcia na pele de Paulete, um dos integrantes do Chão de Estrelas. Seu personagem, um evidente recurso cômico do filme, também transita com profundidade e naturalidade pelo drama.

Os excelentes Irandhir Santos e Rodrigo Garcia – atores interpretando atores

O fato é que Tatuagem só vem engordar a lista de produções de Pernambuco que ganham destaque não só no panorama cinematográfico nacional, mas também no internacional. A edição de 2013 do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro premiou, também na noite de ontem (13), os melhores filmes nacionais de 2012. Entre os principais prêmios da noite, escolhidos com o voto do público, Febre do Rato (Febre do Rato, 2012, Brasil), do pernambucano Cláudio Assis foi escolhido melhor longa de ficção. Hilton Lacerda, diretor de Tatuagem, foi o roteirista deste laureado que também conta com Irandhir Santos no elenco.

Aliás, outro filme do estado estrelado pelo ator, sempre irreconhecível em virtude das boas caracterizações de personagens que compõe, é O Som ao Redor (O Som ao Redor, 2012, Brasil). O longa foi escolhido pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2014. A produção nordestina dirigida por Kléber Mendonça Filho disputará com indicados de outros países uma vaga entre os cinco candidatos a melhor filme em língua estrangeira da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA. O resultado será conhecido no dia 16 de janeiro. Até o crítico do The New York Times, A.O. Scott, se curvou à força do cinema nacional, bem representado por Pernambuco, e colocou O Som ao Redor em sua lista de melhores filmes de 2012 .

Enfim, Tatuagem, A Febre do Rato e O Som ao Redor são somente alguns exemplos de que existe cinema (e dos bons) fora do eixo São Paulo-Rio. Nota: 10.